Quando iniciei os estudos em Acupuntura, eu passava as noites refletindo sobre os pontos de acupuntura. Sentado à minha escrivaninha tentava organizar as ideias me conectando com os grandes mestres chineses da antiguidade, com um simples questionamento: “como vocês conseguiram descobrir a existência dos pontos de acupuntura e, principalmente, como conseguiram decifrar suas funções e efeitos”…assim eu passava algumas noites!

Com a evolução científica a capacidade de acessar a informação mudou. Antes sabíamos o suficiente para entender que um ponto de acupuntura (ponto C7) estimula a produção de endorfina e outro (ponto E36) a produção de oxido nítrico (NO). Era visto nas imagens de pet scan o efeito do IG4 no sistema límbico. Lembro até hoje da minha reação ao ver estampado na projeção do meu professor esse slide, de tanta emoção eu tive que ir ao banheiro, acreditem isso é verdade!

Com o estudo corrente motivado principalmente pela curiosidade nata busquei entender algumas coisas por mim mesmo, foi quando tivemos acesso ao livro: A arte chinesa de curar (Féliz Mann); que descreve, em seu último capítulo, um estudo que comprovara a existência dos meridianos de energia, nesse paragrafo o autor descreve que os canais de energia existem fisicamente e são formados em sua essência por células tubulares; e o melhor é que essas células só existem na região onde há o meridiano. Quer dizer que esses “danados” existem de verdade e, principalmente, parece que tudo que estou estudando e praticando é real.

Nesse instante me empenhei mais ainda no estudo e prática de Acupuntura, pois meu objetivo de entender como os pontos de acupuntura produzem seus efeitos, ainda não tinha sido atingido.

Outros momentos de reflexão se passaram e novas ideias surgiam. Nesse instante o grande debate era o de usar ou não os Vasos Maravilhosos. Alguns professores diziam que não podiam ser utilizados de maneira alguma, outros eram mais moderados e a maioria nem sabia que isso existia (achava isso um crime), mas? Quem sou eu pra achar alguma coisa, eu tinha era que ter certeza! Foi quando comecei a tratar meus pacientes de ambulatório com os Vasos Maravilhosos, utilizando uma metodologia simples e eficiente, pois até então não usava essa classe de pontos, e foi só começar a usar que passei a perceber o poder que temos nas mãos, ou melhor, nas agulhas. Todos os pacientes relatavam coisas do tipo: ” o que o senhor colocou de diferente nas agulhas da sessão passada, pois fiquei muito melhor do que das outras”…escutava isso incrédulo, pensando no íntimo, “nossa essa tal acupuntura funciona mesmo e esses vasos maravilhosos não matam”. A partir daí estudei a finco os vasos maravilhosos para identificar uma forma fácil e simples de explicar o motivo deles serem tão eficientes e positivos. Foi quando, numa próxima etapa estudando genética para uma matéria da faculdade, eu tive um insight ou “sopro divino”, que me direcionava para entender a ordem da colocação das agulhas, pois isso poderia influenciar na organização do estímulo genético provocado pelos vasos maravilhosos. Ao pensar isso percebi que realmente as coisas deveriam ser levadas mais a sério, e eu dobrei minha carga horária prática e de estudo teórico.

Alguns anos depois em viagem a China para um curso, tive uma experiência que abriria o caminho para o surgimento da resposta de meus questionamentos. Sentado assistindo uma aula, comecei novamente a trazer a minha tela mental os mesmos questionamentos de antes, como os pontos de acupuntura interferem na função e na estrutura dos órgãos, vísceras e sistemas orgânicos. Comecei a rascunhar um texto unindo todos os conhecimentos adquiridos por mim até então, nesse momento surgia as ideias intituladas, posteriormente, “Combinações inteligentes, protocolos eficientes”. Que, direto do meu caderno de anotações, traduzo o tal raciocínio pra vocês.

Se cada ponto de acupuntura é uma depressão anatômica e é realmente formado por fibras e receptores nervosos especiais; é óbvio que todos eles são específicos e conseguem, de alguma forma, estimular algum tecido em particular. Além disso, as regiões desses pontos possuem impedância elétrica diferenciada e uma taxa metabólica bem maior que a encontrada nos tecidos adjacentes. Concomitante é necessário lembrar que os meridianos de energia são formados por células tubulares conectados através de junções gap. Essa conjectura permite que um fluxo de água ionizada deslize sobre a superfície desses canais até de alguma forma ou motivo adentrarem ao corpo. Está comprovado, nesse instante, a existência de um sistema paralelo de controle corporal. E esse sistema energético é capaz de harmonizar o organismo, através do estímulo provocado pelas agulhas metálicas inseridas nos pontos de acupuntura.

Nesse momento lembrei do ponto E40 que utilizei numa paciente obesa em conjunto com o ponto BP3, VC12, E24, E25, E26 e E36, o ponto de entrada BP6 e, claro, o Vaso Maravilhoso CS6-BP4. Essa paciente em especial me relatou que durante a sessão ela sentia que algumas placas se desgrudavam de seu corpo, era como se estivesse tendo um desmanche estrutural. A lembrança desse evento direcionou meu raciocínio para concluir que o efeito desse processo foi provocado única e exclusivamente pela combinação dos pontos descritos; onde cada ponto estimula de maneira específica os elementos a serem equilibrados e a união dos efeitos provocados por eles organizaria o efeito maior, direcionado ao elemento terra e seu órgão BP, víscera Estômago e tecido adiposo. Conclusão: quando os pontos selecionados são direcionados ao elemento a ser tratado e, principalmente, quando esses pontos assumirem efeitos distintos, porém complementares, o trabalho é potencializado. Assim, consegui explicar finalmente o que havia acontecido com minha paciente a partir da energia mobilizada pela combinação proposta.

“Os Vasos Maravilhosos CS6-BP4 direcionam a energia ancestral ao baço pâncreas a fim de ser transformada em qualquer modelo energético, o ponto BP3 estimula a atividade energética de metabolismo do BP; esse estímulo contribui para que a energia ancestral oferecida pelos VMs sejam transformadas em yang qi do BP. O ponto E36 harmoniza a função de separação energética dos alimentos no Estômago, além de diminuir o apetite por carboidrato quando combinado com o ponto VC 12. O ponto E40 elimina a umidade, resultado da dissolução provocada pelo calor oferecido ao tecido adiposo pelo ponto E36 em combinação com os pontos E24, E25 e E26.”

Essa foi uma conclusão básica oferecida pela interação de diversos conceitos e ideias estudadas até então. A partir desse instante não parei mais de pensar e descrever o efeito das combinações desse modo. Foi aí que eu comecei a deixar de lado os procedimentos de tonificação e sedação…