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004 – O Desconhecido

Ao chegar no chão o primeiro problema aparece. Cedo demais para algo tão grave! Perdemos contato com os satélites especiais deslocados a pontos longínquos da atmosfera para nos ajudar. Suspeito que tais aparelhos forma desligados de propósito. 

O caminho até o alojamento foi feito sem orientação adequada o risco foi grande, mas chegamos são e salvos. Na porta da cabana o velho nos aguardava sem sorrir mas com uma bela garrafa de vodca na mão. Bebemos e nos atualizamos para o dia seguinte seguir o planejado. 

O sono de sempre não chegou e sem opção resolvi pensar sobre os motivos de sermos quem somos. Os mapas mentais montaram múltiplos cenários para mostrarem em tela expandida os prováveis pretextos para ser assim tão estranho. Uma vida surge fora do seu ambiente natural. A noite é longa mas necessário pensar, pois somente assim as respostas chegam em meio aos sonhos a seguir. 

Acordamos antes do previsto. O café posto é forte o suficiente para adrenalina se mostrar no tecido cardíaco. Em meio ao caos apenas os atentos seguem vivos, lembrem-se disso. Os dias ainda nem começaram por aqui, sem expectativas seguimos todos, ou melhor quase todos.

Nosso batalhão era especial por conta de um sujeito especial. Sua bota sempre limpa e lustrada esconde seus pés mutilados por uma bomba na Coréia do Sul. Na fronteira estávamos prontos para seguir de volta depois do sucesso da missão. No último momento uma fonte duvidosa nos informara que o exército chinês havia nos detectado. Com calma montamos o plano de fuga contando com essa investida dos orientais. 

No ponto terrestre nossa condução já se encontrava. Aos arredores nada a contar pelos observadores vistos do alto. A barra limpa nos guia em busca da liberdade. Em posição de defesa nosso mais determinado soldado aponta sua arma para nos proteger. Sem contar com o imprevisto do alto um drone envia sua munição mais rápido que nosso melhor gatilho – para nos salvar o monstro assume as honras de literalmente pisar no objeto não identificado. 

Seus pés explodem, mas antes ele não permite que outro objeto fosse enviado pelo pequeno objeto voador indetectável por qualquer olho humano ou digital. As sequelas seriam grave demais para qualquer um de nós seguir em frente. Mas para esse sujeito o impossível não tem vez, ele sempre consegue reverter as adversidades. 

Sua alma parece plasmar no corpo uma espécie de fórmula mágica. Suas capacidades vão além do comum que conheço. Como a água, ele se transforma de acordo com o tempo e necessidade. Se preciso for, ele consegue passar dias numa mesma posição a espera do alvo. 

Ali sentado a beira da porta sempre atento, quase não fala sem um estimulante. Sua vida sofrida remonta os tempos áureos de uma região que não existe mais. Um exemplar como esse é raro estar do lado de cá. Espero sempre nunca encontrar seus similares em qualquer combate. Pois seria uma covardia sem precedentes esse tipo de conflito. 

Nunca entendo como ele consegue ser assim tão perseverante!

Na porta dos fundos Memória Ambulante conversava com dois sujeitos. Falavam uma língua diferente que nunca havia escutado. Me aproximei para entender melhor, mas em vão. Meu cérebro sempre atento não registrava nada a respeito. Por isso então resolvi escutar mais atento e logo comecei entender o que era dito. 

Essa habilidade foi desenvolvida durante minha infância. Uma falha no meu cérebro não permite ler a mímica facial produzida pelas pessoas durante um diálogo. Essa tarefa é fundamental para a consciência entender o nível de perigo ao redor. Ao detectar as contrações musculares da face o cérebro consegue mapear o padrão emocional e consequentemente suas redes neurais detectam o nível de periculosidade de tal pessoa. 

O meu não consegue. E por isso aprendi a detectar essas informações pela audição e postura corporal. Leio os lábios por meio das ondas sonoras que os fonemas provocam ao serem produzidos pela língua em movimento coordenado com os músculos mastigatórios. Pelo som produzido entendo o contexto do diálogo. 

No caso Memoria Ambulante estava recebendo informações do alvo. E pelo barulho de estalo feito pela ATM do Memoria ambulante parece que as coisas não sairiam conforme o planejado. Os planos deverão ser refeitos e isso o estressava demais. 

A perfeição é algo inatingível pela maioria. Mas para esse homem isso não é possível. Metodologia, organização e perfeição são sempre objetos de suas intenções. Um coração afável e sempre pronto para acolher e nutrir até mesmo os inimigos. Mas totalmente inconformado com a bagunça e mudança de rota sempre prevista nesse tipo de missão.

Em conversa reservada entendi como sua massa cinzenta funciona. Lento e sempre constante no dever de fazer mais que o melhor. Seu objeto de estímulo é e sempre será a perfeição. Suas vestes impecáveis mostram bem seu caráter. 

Segundo ele próprio sua mãe foi quem lhe ensinou os detalhes de ser organizado mesmo em meio ao caos. No pântano ou no palácio sua polidez marca seus passos curtos e em ordem como um bom soldado. Sua forma redonda escondem braços e pernas fortes o suficiente para carregar seus companheiros alvejados. E ele faz isso como se estivesse ninando um de seus sete filhos. 

Antes que o diálogo terminasse já havia traçado a nova rota para seguirmos em paz!

O caminho é posto para todos. No lado de fora os agentes internos nos aguardam. Uma averiguação superficial diz que são boas pessoas. Mas claro que o inesperado sempre se aguarda de quem depende de mais coisas que você pra viver. Ser alvejado pelos locais não é opção por aqui e essa parte fica a minha responsabilidade. 

Seguimos rumo a segunda parte do plano. A área é instigante pois por aqui os humanos nunca aparecem. Nossa localização não é tão definida, mas estamos em algum ponto do mapa próximo a Rússia. E pela característica física dos locais que nos acompanham devemos estar certamente entre a Bielorrússia e Polônia. 

Nessa região encontramos uma floresta ainda virgem com animais selvagens que podem aparecer a qualquer momento. E pela disposição das árvores essa aqui deve ser seu núcleo central. Estamos a caminho de uma área de caça real. Nesse momento exato nosso alvo deve estar pousando em seu castelo para mais uma temporada de caça. 

O povo que o serve ficou sem opção depois da última reunificação. A Rússia foi desligada e em troca um governo tirano se instalou e agora tenta cortar o fornecimento de gás natural para Europa. Se isso se confirmar serão milhões de vítimas. O inverno se aproxima e pelo visto esse será um dos piores já vistos por aqui. Por isso seguimos. 

Na frente nosso chefe caminha ao lado do líder do povo local. Nos arredores somos vigiados por seus seguranças fortemente armados. No meio Memoria Ambulante analisa os rastros de alguma coisa. Enquanto Red face tenta se concentrar. Nesses momentos os ouvidos precisam estar atentos, qualquer descuido será fatal. 

O dia passa e a noite vem pouco antes das 16:00. A hora nos sugere o local para o acampamento ser montado. A noite chega com o vento frio do sudeste. Os arrepios são acompanhados do uivo permanente dos lobos selvagens que resolveram nos brindar com seus gritos pela noite adentro. 

Uma fogueira no centro e duas grandes barracas em volta determinam os ângulos dos atiradores de elite posicionados em cima das árvores. No fundo da tenda parda nosso chefe resolve detalhes que não ouso me conectar. Enquanto os outros discutem sobre o prato principal próximos a fogueira feita dos galhos carvalho encontrado somente aqui nessa região. 

Por toda parte encontram-se cogumelos especiais capazes de deixar qualquer brutamontes desses daqui loucos por toda vida. Essa parte é bem contestada pelo grupo já que Red Face e Aquaman experimentam o tal cogumelo e parece nada sentir por enquanto. 

O jantar é servido e os locais surgem para saborear nossa comida. Como sempre Memoria ambulante foi o responsável pela comida. Sua destreza com o conteúdo das panelas carrega uma herança milenar. Seus antepassados foram grandes chefes de diversas autoridades importantes. Suas habilidades culinárias se estendem para poções mágicas revigorantes. Mas como todo oposto é verdadeiro, algumas gotas de alguma de suas mais poderosas fórmulas transforma-se numa poderosa arma química nas mãos erradas. 

As ordens chegam da tenda parda….

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